segunda-feira, 21 de maio de 2007

Quem quer saber?


O dantes rapaz e agora homem chegou ao local já conhecido, parou seu carro na frente do grande vidro com o nome do local em neon, umas décadas antes de ser proibido identificar seu próprio estabelecimento, um pouco antes de virarmos uma massa. Desceu de seu "carango", assim como tantos outros faziam, vindos das casas de suas noivas, ou das concorrentes destas, mas ele gostava de sua noiva, queria uma vida normal, família, filhos. Atravessou o portal de entrada.

Já conhecia o ambiente, acompanhara o crescimento desde que era uma lanchonete, o que antes era um "point" de catchup e mostarda virou um ambiente de luz azulada, mas não promíscua, de música ao estilo blues e rock, mas não agitado a ponto de afastar aqueles que gostam de sentar e beber conversando.

Abriu a porta e já esperava, como sempre, aquele ambiente de conversa, troca de idéias e música de qualidade. Na TV um presidente fazia seus anúncios de que as coisas iriam melhorar, ele não estava tão certo, aquela década ia ter muitas surpresas, antes de Grease, com músicas bonitas e danças que lembram a parte bonita (e cafona) da vida. Quando um certo 007 começava a fazer sucesso.

Entre a dança, que só viria no futuro, e o espião inglês, triunfou a licença para matar, mas nem todos eram britânicos, até algumas pessoas do Brasil aderiram. Sim! Aquele pessoal do Brasil, povinho preguiçoso, que adora usar a inércia para manter-se em seu estado atual, seja ele qual for. Pois é, naquela terra onde tudo dá. Dá pipoco, dá em nada, dá calario de pensar nesse calor e dá muito mosquito. Lá mesmo que existia esse bar restaurante ex-lanchonete.

E dessa vez ele entrou e percebeu uma movimentação estranha ali dentro, alguns homens sérios que não se sentavam, com caras amarradas, sempre desconfiados, tentando fazer amizade. E de repente deram um golpe. Não derrumabaram nenhum governo, mas o barman foi ao chão. Tomaram o controle do local e instituiram o silêncio a partir daquele momento. Ninguém falava se não deixassem. Pensou em sua noiva, ficou com medo do que se passava com ela, ele longe, o que ela iria pensar. Ele não era um desvairado, rezava para que não tivesse a idéia errada a seu respeito.

O solo mágico e empolgante do piano cessou antes do sax fazer sua entrada majestosa, os dançarinos perderam a vontade de mexer os corpos. Mas aqueles que dominaram pegaram gosto pela coisa de mexer corpos, inertes ou não, com mosquitos e moscas em cima ou não, logo depois de uns pipocos que ninguém olhou pra ver e não deu em nada, acabaram dando o bar pra eles.

Logo naquele momento difícil que a cidade passava. Dois bairros eram rivais, um achando que chegava fora do estado antes do outro, começaram uma corrida pra ver quem tinha o melhor carrinho de rolemã, começaram a ameaçar de jogarem biribas um no outro e o rapaz preso ali no bar restaurante e preocupado com seu carro parado na frente da ex-lanchonete e da sua noiva parada em casa, sem ter o que fazer, cabeça vazia jardim do diabo... se preocupava. Imagine, se decidissem atacar com as biribas, poderiam até riscar a pintura, digo, até ferir sua noiva.

Havia revoluções em algumas casas, filhos rebeldes de calças jeans e visão socialista, e ele ali, sem seu carro, sem sua noiva, sem sua conversa, sem seu blues nem rock.

E decidiram tocar umas músicas mais românticas, umas conversas mais amenas, começaram a comprar e vender dentro do restaurante que não se falava. Mas alguns falavam, alguns cantavam e eram expulsos, ou que fossem para outros bairros ou que caíssem na sarjeta coletiva para, quem sabe, nunca mais serem vistos nem ouvidos.

E ele tomou seu trago e esperou que os novos donos se cansassem de jogar os caras pra fora e calarem os de dentro. Quando as coisas amenizaram ele saiu, beijou seu carro, já conquistado pelas novas músicas e quase nem lembrando o que se passara, pelo menos não de cara, e foi para casa da amante. Depois de tanta coisa, o que ele menos queria era a normalidade de uma vida familiar com sua noiva...

Anos depois ele escuta Camisa de Vênus, uma bandinha qualquer e reconhece algo familiar na letra de uma de suas músicas. Presta atençãos aos nomes, ao ritmo e de repente lembra de tudo como raio, era isso que o atormentava desde aquela época e não pôde perceber: haviam roubado seu Simca Chambord... e ganhou o prêmio de brasileiro do século! Isso mesmo, um daqueles do povinho cheio de mosquito e calor e... quem se preocupa? O carro era demais!

7 comentários:

Felipe Simi disse...

Aaaêê, de volta aos anos 60! Mesmo não tendo respirado aquele ar feroz de liberdade, sou filho daquela geração. Afinal, nossos pais são, hoje, a prova viva daquele tempo - e foi graças ao meu velho, inclusive, que sugeri o Camisa de Vênus.

Renan, esta semana de posts não poderia ter começado melhor!

Um grande abraço.

Anônimo disse...

Renan! Vc e a Vica honram as Segundas-Feiras. Tenho mto orgulho dos dois.
AMEI esse post, me senti numa "danceteria", rs.

Beijos! ;*

Lívia Lima disse...

Renan muito bom voltar ao tempo com vc....fui num show do Marcelo Nova uns tempos atrás, gosto muito de voltar ao tempo........

Já postei o texto que fiz inspirada no seu último post...passa lá e deixa um comentário

www.vocestemfomedeque.blogspot.com

Anônimo disse...

É óbvia a falta de entendimento da época militar, com fugas generalizadas e metáforas que não funcionam como poderiam.
A tentativa nem foi tão ruim dessa vez (o outro texto clichê de garoto que deseja a paz mundial foi duro de aguentar). O assunto dessa vez é mais relevante, mas foi exposto de forma tão falha que até me perguto se você e a Vica competem na mediocridade...

RDS disse...

Entendamos primeiro (será que você entende?), que medíocre adquiriu, ao longo dos tempos, um sentido pejorativo contrário ao seu significado original, que, por sua vez, significava algo na média, dentro dos padrões de normalidade e, nesse caso, qualidade. Como não sei o sentido que usaste, ó anônimo-coragem, tomo a expressão como elogio.
"Ei, Vica! Estão dando vivas ao nosso texto e dizendo que estamos nos padrões aceitos pela sociedade."
Se você, então, entende da época militar, explique-me, e explique também o motivo de suas críticas tão ferrenhas, ui ui! Porque minha vontade não foi explicar a época, vá ler um pouco. Se você leu conseguiu pegar algo, senão nada posso fazer se ateve-se apenas aos livros que a escola lhe forneceu lendo uma noite antes da prova... eu tb fiz isso e te endendo, pobre alma.
Sim, desejo a paz mundial, mas antes algumas pessoas devem perecer, mesmo algumas sem nomes (deu pra entender agora?), para que fato tão grandioso ocorra.
Ademais, agradeço o comentário e volte quando quiser e puder.
Só não deixo um beijo porque se for um homem vou me sentir mal.
Um abraço, seja quem ou o que for...

Rafael Zito disse...

Mano tem de ser mto imbecil pra ficar escrevendo como anonimo. Tah a fim de esculachar? Então assina!! Certamente esse ser que escreve como anônimo é um pipoqueiro mor.
Meu garoto, deixe esse cidadão infinitando pq não merece nem q seja dado crédito pelas asneiras que escreve.
Vc como sempre mandou bem, nao querendo gaba-lo vc é um dos que coloco como acima da média. REVÊRENCIAS!!!
abraçoooo e bom fds.

Rafael Zito disse...

REVERÊNCIAS!!! me perdoe, pois geralmente eu nao erro e dessa vez me equivoquei. hahaha.