sexta-feira, 23 de março de 2007

O jogo que não se pode jogar


"Uma discussão de fundo sobre o tipo de sociedade a que a comunicação massificada está nos levando não pode se basear em estatísticas de audiência. (...) Talvez o fascínio das telenovelas, do cinema melodramático ou heróico e dos noticiários que transformam eventos estruturais em dramas pessoais ou familiares se assente não apenas em sua especularidade mórbida, como se costuma dizer, mas no fato de sustentarem a ilusão de existência de sujeitos importantes, que sofrem ou realizam atos extraordinários.”
(“A Globalização Imaginada” - Néstor Garcia Canclini)

“Eu não vou falar de amor, E nem vou falar do tempo, Eu não vou dizer nada, Além do que estou, dizendo”.

Preciso escrever mais alguma coisa? Preciso. Tá bom...

... vou falar, então de... há um caminho da especulação pública a ser compreendido, que me leva diretamente aos famigerados reality shows: aqueles programas de costumes da vida alheia e pública. Lá fica o velho oeste. Vilões e mocinhos se enfrentando. Personalidades são exaltadas e editadas. Um jogo injusto. Por que carga d' águas transformam o bom jogador em vilão? Porque se esquece que é um jogo e acha-se que é “vida real”. Os melhores jogadores nunca vencem pois são taxados de “jogadores” - vejam só que coisa - manipuladores da situação que seja mais favorável e que leve ao um milhão de reais. Não é essa a intenção do jogo?! E os bons samaritanos e pobrezinhos dos maus jogadores, que não sabem jogar, só causam polêmica porque são ingênuos. Até, porque quem faz um vídeo dançando, pulando, cantando e etc para ingressar lá, realmente é muito pacato. Eu é que sou esperta que não fiz o vídeo e não fui tentar a sorte de ganhar um milhão ou ficar sumária e efêmeramente famosa. Vamos dar nome ao boi? BB(B), Big Brother (BRASIL - q feliz coincidência “nosso” nome começar com B, não?!). Qualquer intenção de cobiça pelo prêmio ou estratégia de jogo é proibida, imoral ou engorda! Os mocinhos, bons “jogadores” são aqueles que incitam um triângulo amoroso, mas não combinam voto de jeito algum. E o vilão é o oponente estrategista, fiel ao jogo e ao objetivo inicial de todos: ganhar um milhão de reais. Parece mesmo um filme de cinema, hahahaha. Aí, já não sei mais se é a edição que ferra com o programa ou se é a bendita especulação falso-moralista de quem assiste e vota. Deu pra entender? O BBB é um jogo que não se pode jogar.

Trecho de música: Titãs - Eu Não Vou Dizer Nada

6 comentários:

Bianca Hayashi disse...

Hipocrisia brasileira.
Lembro que, no começo, muita gente criticava o tal do alemão (que nem bonito é) não sei porquê. Após uma brincadeira boba e sem graça de sei lá quem, todo mundo passou a gostar do garanhão, envolvido com as duas meninas.

Estereótipo masculino não?

E a mulher? A típica BBB - boa, burra e... barata (sim, barata!).

No final, ganha quem engana melhor o público. Pois, como diz Hugh Jackman no filme O Grande Truque, "o público gosta de ser enganado".

Beijos, Mi!

Anônimo disse...

As pessoas são muito hipócritas. Elas se esquecem de que todos somos capazes de cometer qualquer tipo de ação.
Primeiro, o BB não é um jogo como os outros tipos de desportes. O BB não tem "regras". Os próprios participantes determinam as suas respectivas regras.
Segundo, as pessoas esquecem que quem vota é o povo fora da casa e que estes são totalmente manipuláveis e cheios de falsos valores moralistas.
Terceiro, este programa mostra em todos os sentidos a que veio. Ele serve puramente para alienar a "massa de manobra", que somos todos nós.

Fora o BB e a sociedade hipócrita e falso moralista!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Parabéns Mi.

RDS disse...

Eu tinha escrito um comentário gigante mas perdi por problemas técnicos. Repito então apenas as últimas frases.
Estamos como os cegos no livro do Saramago, percebendo apenas um resvalar de algo que buscamos fragilmente por um de nossos sentidos (na ocasião do livro, o olfato), mas que nos falta na essência e já não é a comida, como no livro, e sim o espírito correto de nosso tempo.
Fausto se perdeu em meio à sua própria criação, sua alma vendida já não suportou sua modernidade.
Se ele quem criou não resistiu, o que cabe a nós? Pobres morimbundos numa busca inútil? Pois é, a ajuda vem da mídia... BBB pfiu.
No início foi até interessante, Casa dos Artistas e tal, ninguém sabia bem como se portar era algo um pouco mais... organizado(?), depois caiu num vazio pior que qualquer coisa.
O ruim, ao meu ver, não é você ter vontade de espiar uma vida, isso faz até parte da curiosidade humana, o maior problema é espiar uma vida que consegue ser mais vazia do que aqueles que buscam essência nesse tipo de programa e ver que são esvaziados por estes Grandes irmãos... Falou!
Hoje em dia só de pensar em BBB já tenho vontade de arrancar minhas bolas com os dentes... E os sonhos do homem? Os verdadeiros?
A falta de heróis é realmente um problema.
Parabéns Mi, texto demonstra o quanto perdidos estamos entre caminhos em branco
PS: Me alonguei de novo

Paula Miguel disse...

Xô hipocrisia!
A verdade é que eu vim aqui comentar pra vcs, amores e dizer que já me tornei leitora. Tô achando essa história toda de blog muito da interessante!

Um beijo! =**

Rose Soler disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rose Soler disse...

Para ter seus quinze minutos de fama e um bom dinheiro na conta bancária, muita gente é capaz de tudo (ou quase).
O Big Brother nada mais é do que o ápice disso tudo. Os "confinados (como eles mesmos dizem) abrem mão de sua personalidade para assumirem papéis que se encaixariam perfeitamente em qualquer novela, seja ela brasileira ou mexicana.
O público, extasiado por corpos sarados e rostos bonitos, identifica-se com o "sofrimento" dessas pessoas, que ao mesmo tempo que choram de saudade de pais e namorados em frente às câmeras deixam "escapar" parte do biquini ou a sunga durante o banho. E tudo isso para chamar a nossa atenção, afinal somos nós que garantimos a continuação de tudo aquilo.
Mudam os continentes mas a fórmula de diversão vazia e os estereótipos permanecem os mesmos. Afinal, "em time que está ganhando não se mexe". E fazer o público pensar, prá que? Público que pensa não dá lucro.